24 dezembro 2016

BRAÇOS E ABRAÇOS

BRAÇOS E ABRAÇOS
Maria Alice Estrella

         Assisto, através das redes virtuais, essa época de tantas confraternizações entre grupos de trabalho, companheiros de atividades das mais variadas, colegas de grupos musicais, de artesanato, de benemerência e por aí vai..., que celebram a proximidade do Natal com trocas de presentes, de risos, de brindes com champanhe, churrascos, jantares e o que mais puder ser incluído para festejar.
         Apesar de ser lida aos domingos por muito mais pessoas do que imagino, ou seja, entro porta adentro de inúmeros lares com meus escritos dominicais publicados no jornal, sem o mínimo constrangimento, invadindo pensamentos e partilhando emoções, não participo dos tais congraçamentos natalinos.
         Percebi isso agora. Sou mera espectadora, relatando impressões.
         Deva-se ao fato de que minha sociabilidade ser assimilada por um grupo extenso cujas similaridades me envolvem no plano do etéreo onde as palavras plasmadas no papel estabelecem pontes invisíveis.
         Parece que o anjo que habita em mim desperta e espreguiça suas asas, ampliando o espaço que ocupo para que eu possa estender meus braços em direção aos semelhantes na comunhão do amor amplo, geral e irrestrito de uma forma peculiar, através dessas linhas.
         Alguma coisa acontece para além das luzes brilhando nas casas, das ceias festivas, dos pacotes coloridos colocados debaixo das árvores, das orações e cânticos frente ao presépio. 
         É algo mais. No abraço de Natal está o melhor de cada um. No instante em que o calor do afeto se entrelaça mesclando sentimentos de confraternização tudo o mais silencia. O que se ouve é a voz que vem de coração para coração, de alma para alma.
         O Menino envolto em panos numa manjedoura nasceu e está vivo para sempre.  Natal é reconhecer esse Amor e fazer dele uma constância no cotidiano, enquanto pudermos nos abraçar nos Natais nossos de cada dia.
         Os abraços de Natal são muito fortes e firmes apesar da ternura que encerram. Eles expressam o que as palavras dispensam. Seu significado é indizível.
         Com esse abraço deveríamos abraçar e ser abraçados a cada dia porque a cada dia nascemos de novo. Assim como o Menino na manjedoura.
         Espero que o anjo que existe dentro de cada um não adormeça no dia seguinte para que o fenômeno do amor natalino se estenda à realidade de todo o ano.
         Em cada celebração do Natal, parece que em volta do planeta Terra surge uma auréola de congraçamento e uma onda gigantesca de amor invade os lugares mais remotos, unificando a aldeia global.
         O Amor que quer sobreviver às dificuldades, aos atropelos, ao desânimo.  Ele deseja permanecer apesar, acima e além das nossas limitações. Além das celebrações restritas a pequenos grupos. Acima dos círculos exclusivos. Através da distância do palpável e real.
Como escreveu Vinicius de Moraes;
Subamos! 
Subamos acima 
Subamos além, subamos 
Acima do além, subamos! 
Com a posse física dos braços 
Inelutavelmente galgaremos 
O grande mar de estrelas 
Através de milênios de luz.


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